Marrocos 2008

Abril 19
Porto – Utrera
Preparava-me para sair de casa, eram 07h45, chovia copiosamente e de forma desmoralizadora. Durante toda a semana tinha chovido regularmente e as previsões não eram de facto optimistas. Mal podia acreditar que tínhamos mais de 600 km pela frente neste dia. Agora nada havia a fazer e assim me fiz à estrada. O encontro estava marcado na área de serviço dos Carvalhos, já lá estava o Fonseca e a Tilde, entretanto chegou o Caldeira e o Paulo. O funcionário do café olhava atónito para aqueles malucos, todos encharcados, àquela hora da manhã. Lá arrancamos, a custo, percorrendo a A1 com paragem na área de serviço de Pombal para aquecer e recuperar ânimo pois a chuva não abrandava. Seguimos o IP5 para Vila Velha de Ródão, pequena paragem para reabastecimento, direcção a Alpalhão onde almoçamos no acolhedor Restaurante Regata, iniciando as hostilidades com umas apetitosas entradas alentejanas seguidas de perna de cabrito assada. A chuva entretanto deu-nos descanso até passarmos a fronteira de Elvas mas à medida que seguíamos em direcção a Sevilha, esta voltou a fustigar-nos severamente, Mesmo assim prosseguimos até anoitecer e já exaustos paramos perto de Utrera, no Hostal Restaurante Meson El Paisano. O restaurante era tipicamente de estrada onde não faltavam tapas e petiscos. E assim, agarrados as umas canhas e tapas variadas, ficamos por ali à conversa o resto da noite. No dia seguinte entraríamos em Marrocos e um longo trajecto nos aguardava.




Abril 20
Utrera – Chefchaouen
O dia amanheceu solarengo e depois de um vigoroso desayuno com pão, presunto, azeite, queijo e sumo de laranja partimos para Tarifa. Foi sol de pouca dura, a chuva ia aparecendo a espaços. Chegados a Tarifa, estava bom tempo, despimos os fatos de chuva mas constatamos de seguida que não havia ferry devido às condições de mar. O funcionário da FRS adiantou-nos que fariam ponto da situação pelas 17h00 mas sugeriu-nos como alternativa Algeciras onde as travessias não estavam suspensas. Encontramos dois ingleses que também se dirigiam a Marrocos e compareceriam no Encontro mas optaram por aguardar. Rapidamente percorremos os 20 km que nos separavam de Algeciras, compramos bilhete, engolimos uma sandes e logo nos deparamos com a azáfama de carros e furgonetas na entrada para o cais. Os motards, esses privilegiados, passaram ao lado com ajuda da Tilde a tratar das formalidades. Estranha a sensação de meter a moto a bordo, deixando-a aos cuidados da tripulação que se encarregava do lashing. A moderna embarcação cumpriu cerca de 1 hora até Ceuta onde chegamos por volta das 17h00. Para evitar percalços na saída, demos prioridade aos automóveis e fomos os últimos a desembarcar com a chuva a dar-nos as boas vindas insistindo portanto em nos acompanhar. Atestamos em Ceuta, vestimos fatos de chuva, compramos água e lá seguimos em direcção à fronteira. A ansiedade era nítida mas encarando com a serenidade que é aconselhada nestas situações, em menos de 1 hora e com a alegada ajuda de uns marroquinos lá cumprimos formalidades prosseguindo por Tétouan em direcção a Chefchaouen. Paramos para um “té à la mente” divinamente preparado com as folhas de hortelã a dar o toque especial. Entretanto juntaram-se 3 motards polacos dos quais 1 era deficiente físico e viajava em side-car. Chegamos pelas 21h00 ao Hotel Madrid, antigo mas muito típico. Rapidamente trocamos de roupa e fomos jantar mas a chuva volta apanhar-nos a caminho do restaurante, desta vez desprevenidos. Deliciei-me com uma tagine de borrego com amêndoas e ameixas acompanhada da salada marroquina, enquanto os restantes optam por brochettes e couscous. Aparecem os polacos, lançamos o convite para se sentarem connosco. O Petr, com ajuda do seu portátil, apresenta e narra a sua viagem solitária até Pequim. O Radek, a custo, ia traduzindo para inglês e engolindo a sua tagine entre duas frases. O Fonseca rematou a noite desabafando que as fotos saíram caras…



Abril 21
Chefchaouen – Fés
Pela manhã passeamos pela parte antiga da cidade, muito típica e agradável. Embora não chovesse, o dia apresentava algumas nuvens. Tiramos dezenas de fotos às casas azul anil, visitamos lojas de especiarias, roupa e artesanato. Haviam entradas cuja curiosidade nos impelia a entrar para fotografar mas o intenso cheiro a urina das canalizações mal vedadas rapidamente nos obrigava a sair. Com pena de não podermos alongar a visita um pouco mais, partimos por volta das 12h00 na companhia dos polacos. A estrada sinuosa proporcionava um andamento muito agradável por entre montes verdejantes. Paramos num restaurante de estrada e com a amabilidade dos empregados rapidamente nos prepararam uma mesa, três tagines de frango, para quatro, terminando com laranja e canela. Os ingleses apareceram, tomaram um chá de menta e seguiram o seu caminho. Despedimo-nos dos polacos que iam para Rabat e prosseguimos por Fés-el-Bali e Pont du Sebou num percurso muito agradável com paisagens fantásticas. Chegamos a Fés já de noite, com um trânsito intenso e desordenado. O Caldeira não encontrou o hotel que pretendia, ainda tentamos o Hotel Íbis mas estava cheio, acabamos por pernoitar no não menos simpático Hotel Perla deixando as motos em exposição à entrada. Talvez fosse do cansaço deixamo-nos levar por um tipo que nos indicou um restaurante bom e barato onde os únicos clientes éramos nós e por isso o resultado era previsível: caro e sem qualidade, restou a musica ao vivo que de marroquina nada tinha. Experimentei uma pastilha, confeccionada com uma pasta folhada e peixe mas sem grande paladar. Não gostei!



Abril 22
Fés – Ifrane
Pela manhã saímos para visitar a Medina de Fés, O guia meteu-nos num Mercedes antigo e lá seguimos. Por sorte o trajecto era curto a sauna terminou rapidamente. A visita foi espectacular, o choque com a azáfama das pessoas, os cheiros, as cores, os produtos expostos davam uma dimensão da Medina que é difícil de descrever em palavras. Muitos turistas em grupo cruzavam-se connosco enquanto nós, íamos percorrendo o mais discretamente possível as estreitas ruelas, fugindo do assédio comercial. Curioso ver as mulas carregadas, a passar a toda a pressa. Se não estivermos atentos ao aviso do condutor: balak… balak,… arriscamo-nos a ser literalmente atropelado. Por muito que se tente escapar, o guia, como bom marroquino, lá nos ia conduzindo às lojas típicas com intuito de fazermos negócio e ele ganhar a sua comissão. Conhecemos vestuário típico como a jellaba, a gandoura, o kaftan ou o tarbouch e acabei por comprar uma jellaba a um alegado amigo do Tarik Sektioui (pareceu-me a dada altura todos eram amigos do craque do FCP). Visitamos uma tanoaria onde observamos do terraço o trabalho árduo dos operários, no interior dos tanques, rodeados de intensos cheios das peles e dos químicos. Almoçamos requintadamente no típico, o Restaurante Ennajjarine, onde aparentemente todos os guias levavam os seus clientes e onde mais uma vez encontramos os ingleses. Experimentamos variadas saladas marroquinas, seguindo-se um pollo con almendras, frutas variadas com canela. Em Fés habitam 1.200.000 pessoas das quais 200.000 dentro da Medina, que é enorme e muito tem para ver mas a tarde passava rápido e tínhamos que prosseguir viagem deixando para trás, com muita pena, outras zonas interessantes por visitar nesta agradável cidade. Equipamo-nos no hotel, o calor tornava-se insuportável, fizemo-nos à estrada em direcção a Ifrane num trajecto curto mas com algum trânsito. Chegamos a tempo de lanchar uns crepes e chá de menta, relaxadamente saboreados na esplanada, num ambiente muito calmo. De facto mais parecia que estávamos numa tranquila localidade Suíça uma vez que o cenário tinha mudado completamente. A paisagem, as casas, a organização das ruas e jardins em nada se assemelhavam ao que para trás havíamos deixado. Afinal é por estas bandas que o Rei de Marrocos costumar esquiar durante as férias. Negociamos no Aparthotel La Paix, uma habitação com 2 quartos, cozinha e sala para os 5 mais barato que se nos instalássemos no hotel vizinho. Alguém teria de dormir na sala mas depois de ver o espaçoso sofá ao redor, todos lá queriam dormir. Mantendo o clima tranquilo, optamos por comprar algo light no supermercado e jantar em casa, em alegre cavaqueira. Ainda saímos para tentar tomar um café mas os estabelecimentos já estavam encerrados. Afinal é mesmo uma localidade tranquila e de hábitos modestos.



Abril 23
Ifrane – Midelt
O pequeno-almoço teve lugar na esplanada do Café La Paix, composto por croissants, pão, manteiga, sumo de laranja e sol à mistura dando assim mote para arrancarmos em direcção a Midelt. À passagem pela floresta dos cedros fizemos breve paragem para conviver com os simpáticos macacos que se aproximavam de nós a troco de pão ou amendoins. Prosseguimos, cruzando com vários motards na estrada, passando infelizmente por um acidente mortal entre um ligeiro e um camião, ambos na faixa central da estrada. Estávamos a poucos quilómetros de Zeida e paramos já na povoação para fumar um cigarro e comentar sobre o acidente. À chegada a Midelt fomos convidados pelo diligente empregado do “Restaurant de Paris” a almoçar, mostrando, todo contente, fotos de outros motards, que lá tinham estado, inclusive portugueses. O dia estava muito quente e esta paragem vinha mesmo a calhar. Para recuperar forças seguiram-se umas brochettes com saladas variadas e umas deliciosas azeitonas, terminando com laranja e canela. Os ingleses voltam a encontrar-nos mesmo a tempo de mais um “té à la mente” para tirar a sede, prosseguindo cada grupo a sua viagem. Entretanto aparecera também Rashid, um guia local, que nunca mais nos largou, arranjando-nos alojamento no Hotel Safari-Atlas e programas até ao dia seguinte. Largamos bagagem, as malas laterais e a Tilde no hotel e seguimos para a pista “Cirque de Jaffar”. Ao início confesso que custou meter a máquina nestes trilhos de cascalho mas a chegada ao topo foi como a cereja no cimo do bolo. O cenário era verdadeiramente fantástico. Embora estivesse a entardecer o calor era ainda intenso e o silêncio reconfortante neste local inóspito, apenas habitado por uns quantos nómadas segundo nos indicou o Rashid. O inesquecível momento foi registado pelas fotos tiradas e que belas recordações nos vão trazer mais tarde. O regresso mais pacífico, permitiu melhor gozar a condução, mesmo assim não impediu que o lacrimejar me fizesse perder uma lente de contacto pelo caminho… Regressamos ao hotel a tempo para um banho reconfortante mas rápido pois os meus colegas são piores que as senhoras e o Rashid já aguardava para nos voltar a conduzir, desta vez a um restaurante barato. De facto devia ser mesmo barato pois só havia um único prato! Decidimos experimentar outro e pelo caminho compramos umas cervejas que por norma não são vendidas nos restaurantes. Jantamos num típico restaurante de nível duvidoso mas cujas brochettes estavam agradáveis acompanhadas das inseparáveis azeitonas, saladas marroquina e pão com fartura. Claro está que a noite não podia acabar sem o Rashid nos levar à sua Maison Berbere onde outros familiares nos aguardavam. Após o incontornável chá de menta, apresentaram-nos um rol de carpetes, tapetes, lenços e artesanato. Foi bastante divertida a apresentação, rimos bastante mas no final tornaram-se insistentes e maçadores na ânsia de vender algo. Após renhida negociação comprei tapete de seda de cactus, muito bonito e recebi um lenço berbere. Para satisfação da Tilde e dor de cabeça do Fonseca, acabaram por comprar um enorme tapete sem certeza que caberia numa das malas da Quota... Inxalá. Com estas andanças deitamo-nos por volta das 3 horas da manhã!
Esta forma de negociar é: 1) intrínseco à sua forma de ser, 2) é do turismo que vivem, 3) se pedissem o preço justo o turista oferecia metade, 4) sabem que as possibilidades económicas do turista estão à altura de concretizar um negócio proveitoso para ambas as partes, daí a insistência.




Abril 24
Midelt – Maadid
O pequeno-almoço servido no café contíguo ao hotel, composto com o inevitável sumo de laranja, café com leite, croissants e pão muito saboroso deixou-nos com a disposição necessária para mais um dia de viagem. O Paulo, coleccionador de fósseis pediu algum tempo para ir com o Rashid às compras. Aproveitei para ir à Internet, mas estava tão lenta que desisti. Também por 5 dirhams à hora não se podia esperar melhor! Esperamos uma eternidade pelo Paulo até que finalmente arrancamos por volta das 12h00. A paisagem ia secando o cenário, a temperatura aumentando enquanto rolávamos tranquilamente entre os 100 e 120 km por hora em direcção a Er-Rachidia. Paramos para almoçar perto do Túnel do Legionário, pois o calor estava maçador e as barrigas estavam na reserva. Até as motos ficaram no parque de estacionamento à sombra. Prepararam-nos uns frangos assados na hora, antecedidos dos habituais acompanhamentos, finalizando com uísque berbere. Como saiu caro, negociamos e baixamos uns dirhams à conta. Prosseguimos passando o Túnel do Legionário, avistando ao longe o rio Ziz de um azul-turquesa magnifico e atravessamos Er-Rachidia sem parar. A cidade aparentava já um certo planeamento urbanístico e eram visíveis boas habitações. Faziam 30ºC e faltavam 80 km para Erfoud que percorri com ansiedade. À medida que nos aproximávamos, o terreno ficava mais plano e árido, avistava-se um palmeiral a perder de vista com pequenas povoações nas margens. Uns miúdos tentaram vender-nos umas figuras de camelo feitas com folha verde. Dei-lhes duas canetas, as que restavam das várias que tinha levado para distribuir, mas como eram três ainda tentei fazer um oferta justa premiando quem adivinhasse de onde éramos ou que país significava o “P” mas … nada! Deixamos os miúdos para trás que continuavam a pedir mais “stylos” e prosseguimos. À passagem por Aou Fous paramos para o Paulo atender uma chamada, aproveito a coincidência para fotografar um camião que transportava um contentor HMS. Faziam 31º não se aguentava o calor com o equipamento. Por volta das 19h00 chegamos finalmente ao grande Kasbah Xaluca. Foi a recepção perfeita! À entrada do hotel, tipicamente decorado em árabe, um grupo tocava e cantava musica popular à medida que nós, hóspedes, chegávamos. Os corredores exteriores de acesso aos quartos assemelhavam-se a ruelas de cidade, o quarto era enorme e deliciosamente acolhedor e por fim a casa de banho luxuosa fazia uma injusta afronta às demais que até agora tínhamos usado. Após um banho para tirar poeiras da viagem seguiram-se uns mergulhos na piscina para relaxar. O ambiente estava perfeito para reorganizar os sentimentos extremos que me percorriam: ao passar a porta do hotel ficou para trás toda a modesta e precária vida marroquina para dar lugar a uma luxúria das arábias, onde iríamos passar os próximos dias! Ao anoitecer e na companhia do Gonçalo Mata, que se juntara ao grupo, ficamos à conversa no bar antes de seguimos para o restaurante onde nos deliciamos com as inúmeras iguarias marroquinas que nos tentavam os sentidos. O resto da noite foi passado num ambiente visual fantástico, mais o inglês Phil que entretanto se juntou ao grupo e por ali ficamos à conversa sobre aventuras e desventuras de viagens. Ainda assistimos a uma sessão fotográfica pré-nupcial, tendo os noivos chegado na companhia de familiares e amigos, brindaram e saíram poucos minutos depois num silêncio exemplar. Tudo isto só para a fotografia! Espanto quando vemos no meio da pequena multidão um fulano com a camisa do FCP, marcada Tarik Sektioui nas costas, mas o seu verdadeiro ídolo era mesmo o Cristiano Ronaldo. Seriam 01h20 quando nos recolhemos ao acolhedor quarto para um merecido descanso, enquanto o Gonçalo e o Caldeira iam trocando ideias sobre projectos futuros.




Abril 25
Maadid
Foi dia de relaxe total, gozando o sol, o calor, a piscina, o bar, o quarto, o ambiente, a companhia em regime de tranquilidade total. As conversas com o Gonçalo são invariavelmente interessantes sobretudo quando abordam temas como as viagens, a gestão pessoal, a forma como conduzimos a nossa vida ou pior ainda porque nada fazemos para a viver intensamente. Ainda consegui aceder ao meu mail do computador do Fonseca e enviar umas mensagens! O entardecer é divino! Entre o pôr-do-sol e o acender dos candeeiros a vela, religiosamente cumprido pelo pessoal do hotel, o momento é fantástico e deveras romântico se vivido a dois. São pequenos nadas que nos fazem sentir que há tanto para descobrir por esse mundo fora e se não as procuramos acabamos por ficar claramente a perder. Depois do jantar já em companhia de outros motards seguiram-se as presentações do Horizons Unlimited no salão marroquino, preparadas pelo Caldeira. O Gonçalo apresentou o seu BuenaYork e o Petr a sua viagem de Pequim a Praga.




Abril 26
Maadid – Erfoud
Mais um belo dia a desfrutar o Kasbah Xaluca. Como precisávamos de levantar dinheiro e abastecer fomos até Erfoud, o Paulo seguiu em busca dos seus fósseis, nós seguimos até à entrada da uma pista. Sentia-se claramente no ar o cheiro a deserto e estava muito quente; como não tínhamos previsto vadiar deixei ficar o casaco no quarto, logo começavam-se a sentir os efeitos do sol. Paramos à entrada da pista, fizemos umas pequenas incursões na terra e regressamos. Uma falha de alcatrão na berma de estrada, uma desatenção e a viagem podia ter terminado ali. Não podemos perder a concentração um só segundo, mesmo rolando pachorrentamente! Como tinha havido falha de electricidade nem as caixas automáticas dos bancos nem as bombas de gasolina funcionavam. O posto onde paramos estava pejado de autocolantes de várias expedições e clubes que iam deixando como recordação. Aproveitamos para tomar um café de qualidade sofrível e encontramos um berbere que para além de tocar música popular e nos convidar a visitar a sua tenda de artesanato também conhecia um português a viver em Erfoud. Almoçamos light no Kasbah Xaluca, eu fiquei-me pela omeleta. O Gonçalo Mata estava de partida em busca da sua história. Feitas as despedidas da partida e as fotos da praxe, por ali ficamos nós a derreter sob o calor intenso da tarde. Voltei a Erfoud, levantei dinheiro, abasteci a moto, procurei umas gandouras touareg, passei na tenda do berbere desta manhã mas não escolhi nada. De regresso ainda tive tempo para um mergulho na piscina. Entretanto chegou um casal de americanos, Bob & Kathy Eggett, que viajavam em Gold Wing tendo ficado à conversa com o Caldeira. Jantamos em ambiente de sã camaradagem e evasão gastronómica, seguindo-se mais uma sessão do Horizons Unlimited desta vez com o Fonseca a falar sobre segurança dos equipamentos e o americano Bob Eggett a relatar as suas viagens, em especial esta pela Europa com passagem por Marrocos.



Abril 27
Merzouga – Gorges du Todra
Não sendo esta uma viagem propriamente turística, o espírito de aventura e até de sacrifício tinha de estar associado, portanto havia que levantar bem cedo para assistir ao nascer do sol ao Erg Chebbi. Levantamo-nos pelas 04h00 da manhã, tomamos café com leite e bolos gentilmente oferecidos pelo Mohamed, na cozinha, antes de devorarmos os 50 km que nos separavam das dunas. À chegada ainda corremos até à duna mais alta pois o sol nascia. Já lá se encontravam uns franceses e o guia que os transportara de camelo como se impõe a tradição. Camelos fomos nós, a correr pelas dunas fora, para não perder o melhor da ocasião. Conseguimos assistir ao raiar do sol mas se chegássemos ainda de noites seria um espectáculo completo. A acalmia das areias, o silêncio das dunas, a ausência de vento, traduziam o deserto no seu melhor mas claro está tudo ficou por conhecer sobre esta magnifica dimensão. Encontramos o grupo da Bomcar que estavam também a viajar por Marrocos, seriam umas 30 bmw’s com 2 carros de apoio e 1 furgão oficina. Vida fácil…! No regresso paramos em Rissani para um chá de menta num café típico e aproveitamos para tirar umas fotos às gentes locais que passavam empenhadas no seu dia a dia. Até parecem simples as suas vidas. Chegados de novo ao Kasbah Xaluca, o Fonseca e a Tilde já nos aguardavam mas ainda deu para um último banho real antes de nos despedirmos de tão dignos aposentos. O calor estava sufocante e a vontade de lá permanecer muita mas a custo lá arrancamos. Seguimos viagem por Tingherir e Boumalne Dades, a temperatura rondava os 33º muito secos, até que tivemos de parar para petiscar e repousar um pouco que o Caldeira já acusava o facto de nos termos levantado de madrugada. Após umas omeletas com saladas e uma longa paragem prosseguimos até Gorges du Todra. Era final da tarde, o trânsito estava intenso e completamente desorganizado, as gentes locais pareciam festejar algo mas quando interrogo um marroquino, responde-me que não festejam nada ... é sempre assim aos Domingos! Cada vez menos gosto de passeios dominicais. O Hotel Kasbah Les Roches ficava do outro lado do rio, o Caldeira aventurou-se a atravessar a vau acabando por encharcar botas e calças. Eu e o Paulo optamos pela travessia da ponte de madeira, o Fonseca teimosamente preferiu deixar a sua Quota na margem oposta. Rapidamente negociamos e instalamo-nos no hotel, os quartos eram modestos quanto baste, mas já estávamos habituados. O cenário era assombroso, afinal estávamos nas gargantas do Todra, rodeados de altas escarpas de rocha, parecia que estávamos comprimidos e tudo podia desabar sobre nós. Chegaram entretanto uns espanhóis em 4x4 e motos. No restaurante do hotel vizinho, que por sinal estava cheio de viajantes, jantamos as habituais saladas, brochettes com arroz, legumes picantes, fruta e chá. Acabamos por tomar café já no nosso hotel, tentando pôr as contas em dia mas o cansaço venceu empurrando-nos bem cedo para a cama.




Abril 28
Gorges du Todra – Ouarzazate – Ait Ben Haddou
Saímos cedo, entretanto outros turistas chegavam. Abastecemos em Tinerhir, circulamos a ritmo lento, parámos em Boumalne-Dadès, bebemos uns sumos de frutas naturais, eu aproveitei para recordar o sumo de abacate tão apreciado em Belém. Continuamos até Ouarzazate rolando pachorrentamente mas a derreter com o calor. Almoçamos num restaurante típico mas apinhado de turistas. Com sorte a Tilde descobriu duas portuguesas que aceitaram dividir a mesa connosco almoçando assim todos em conjunto, conversando sobre viagens e as preferências de cada um. O Paulo que não encontrou nenhum prato sem pimenta, decidiu ir indo para Ait-Ben-Haddou. Sem contar com o tempo que esperamos pela refeição, a qualidade da minha tagine de carne com ameixas ficou aquém do aparente nível do restaurante. Despedimo-nos das portuguesas e tomamos um café e até comemos uns gelados OLÁ junto à Medina. À chegada a Ait-Ben-Haddou instalamo-nos no Complexe Touristique La Kasbah, largamos o equipamento e fomos visitar a antiga vila onde só algumas famílias habitam actualmente. Do outro lado do rio seco, encontramos a GS do Paulo controlada por um fiel gardien, mesmo à entrada da vila. Não faltavam lojas de artesanato mas já se notavam muitas casas completamente abandonadas a caminho da ruína. Fomos a casa do Hammid, conhecido por ter sido figurante no filme "O Gladiador" rodado naquelas bandas. Como o Caldeira, era conhecido da família, acabamos por regressar com o Hammid até sua casa para visitar a sua mulher e os seus 4 filhos. A electricidade tinha falhado e não havia luz em sua casa, mas dava para ver que era simples e asseada. Inevitavelmente não fugimos ao chá de menta e bolos que possivelmente estariam reservados para outra ocasião mas que simpaticamente nos quiseram oferecer. Regressamos ao hotel, já de noite e sem luz, o Paulo estava desnorteado por não saber onde estávamos ou qual o hotel em que nos tínhamos alojado. Tinha perguntado por uns portugueses de moto mas o recepcionista só tinha visto uns “franceses” de moto! De facto tínhamos falado em francês e nada nos identificava como portugueses pois não tínhamos feito o check-in por escrito. Jantamos ora à luz eléctrica ora à luz da vela consoante a capacidade do gerador do hotel. A agradável ementa baseou-se em sopa, ovos mexidos, tagine de carne e bolo de laranja. Terminamos a noite em amena cavaqueira, à luz da vela, no hall do hotel. Ainda li um pouco antes de dormir mas tive receio de causar algum fogo posto tendo optado por apagar a vela e dormir.




Abril 29
Ait Ben Haddou – Marrakech
A esplanada era bem simpática mas o pequeno-almoço fraco. Mal terminamos fomos às compras à loja do Rachid, outro conhecido do Caldeira. Ele e o irmão foram incansáveis em vender-nos o que tinham e o que não tinham mas podiam encontrar na loja dos comerciantes vizinhos, para satisfazer os nossos gostos mais exigentes. Ainda passamos por casa do Hammid para deixar umas roupas e tomar mais um chá. Rolamos cerca de 60km e paramos para abastecer mas não havia gasolina. Almoçamos mais uma tagine de carne acompanhada de um refrescante sumo de laranja. Prosseguimos atravessando o Atlas, as temperaturas foram descendo aos 12º voltando a subir até aos 33º já perto de Marrakech. Foram mais de 100 km sem encontrar uma bomba de gasolina, a Quota do Fonseca acabou por acusar a sede e parou. Eu e o Paulo fomos 17 km mais à frente para encher uma garrafa com o precioso líquido permitindo à Quota chegar a Marrakech. O trânsito era infernal, completamente desorganizado, diria mesmo irresponsável e perigoso. Dezenas de carros e motocicletas enchiam as ruas para não falar dos transeuntes atravessar as ruas como se tudo estivesse controlado. As motocicletas a pedal, em especial, ultrapassavam-nos tangencialmente ou metiam-se à nossa frente como se não estivéssemos a conduzir motos com cerca de 200 kgs claramente sem a mesma agilidade. Ficamos alojados no Hotel Ali, junto à famosa Praça Djemaa El-Fna, deixamos as motos estacionadas à porta do hotel. Banho rápido para tirar a poeira e seguimos para a dita praça sendo praticamente assediados pelos insistentes empregados das dezenas de tasquinhas. Demos umas voltas, os petiscos eram muito semelhantes, acabamos por ficar na primeira tasquinha. Depois deste variado jantar, continuamos petiscando pela praça fora: sumo de laranja, frutos secos, um gelado no conhecido Restaurant Argana terminando à meia-noite, com uns cafés e já num outro estabelecimento. Esta praça fervilha de vida, muito turista, muito comércio, muito marroquino a mostrar as suas habilidades a troco de dinheiro e então fotografar torna-se tarefa complicada pois todos querem dinheiro para se deixarem fotografar: o aguadeiro, o encantador de serpentes, o cantor, o malabarista, … As lojas permaneciam abertas pela noite dentro e curioso foi mesmo ver uma barbearia atender clientes tão tarde! Ao chegar ao hotel somos convidados a mover a nossas motos para junto de um parque de motocicletas de aluguer, onde claro está tínhamos que pagar ao gardien. Ainda reclamamos mas como diria alguém "That’s the economy stupid…"




Abril 30
Marrakech – Khénifra
Logo pela manhã, depois de um pequeno-almoço banal, onde o factor diferença foi a confecção de um ovo frito ou mexido, partimos a pé para visitar a mesquita de Marrakech, bem menos interessante que a de Fez e gentes menos simpáticas. De realçar a zona das joalharias, com belos artigos de prata e pedras. Comprei uma gandoura, um tarbouch e aproveitando a moda marroquina, aguardei que terminasse o negócio entre o Paulo e um vendedor para aquisição de uma carpete por Dh 500 para propor duas por Dh 800. Como a resposta foi “não” estendi a mão e vim-me embora mas quando efectivamente saímos já trazia a minha manta por Dh 400 e o Paulo a reembolsar Dh 100. Deliciamo-nos com uns iogurtes de fruta numa confeitaria e tomamos um agradável chá de menta no Café La Koutobia onde relaxamos um bom par de horas a apreciar o movimento de pessoas e veículos. Ainda assistimos a um acidente entre duas motocicletas o qual após meia hora de pacifica discussão, terminou com beijo entre os acidentados, seguindo cada um à sua vida. Era hora de prosseguir viagem, subimos ao 1º andar do hotel e trocamos de roupa no átrio sob o olhar surpreendido mas desconfiado das empregadas de limpeza. Fizemo-nos à estrada em direcção a Meknes, o tempo estava quente, rolávamos bem, com o Atlas como pano de fundo lá bem ao longe. Anoiteceu e ainda tínhamos muitos quilómetros pela frente, a condução começava a tornar-se perigosa e não podíamos confiar na prudência dos marroquinos. O Caldeira sugeriu se pernoitasse numa próxima localidade mas o grupo pretendia avançar um pouco mais, com cautela. Arrancamos em direcção a Khénifra mas o ritmo não se adequava à condução nocturna e foi necessário parar para refrear os ânimos. Chegamos a Khénifra, cansados, estávamos a comer uma sandes de carne picada quando fomos abordados por dois polícias a saber se íamos pernoitar por lá e se tínhamos alojamento reservado. Respondendo que não sugeriram que procurássemos alojamento noutra localidade pois os hotéis estavam lotados. Ou seja, não nos ajudaram a resolver nada e ainda nos deixaram preocupados com o facto de ainda termos de rolar mais naquela noite. No fundo a preocupação deles devia-se ao facto do Rei passar no dia seguinte e quererem assegurar que não havia perturbações!... Com a ajuda do dono do restaurante o Caldeira encontrou alojamento no Hotel Annajah em 30 minutos.




Maio 01
Khénifra – Larache
Na esperança de cruzarmos com o Rei Mohammed VI e depois de tomar o pequeno-almoço no café contíguo ao hotel, onde já haviam muitos marroquinos que, dando uso ao seu melhor fato de domingo, conversavam enquanto aguardavam Sua Alteza. Ao longo da estrada, a cada 100 metros, encontrávamos policias impecavelmente fardados, mas o Rei não passava. Paramos em Mherirt, na expectativa de ver o Rei passar enquanto almoçávamos. As empregadas eram simpáticas e comemos umas deliciosas costeletas do borrego que estava pendurado junto ao grelhador. Após repasto e umas fotos para a posterioridade, que a amizade entre a empregada e a Tilde já era evidente, prosseguimos viagem. Os polícias já deviam estar a desfalecer sob aquele sol intenso e o Rei que teimava em não aparecer, porém serviço é assim, há que aguentar firme! Em Meknes estava interditada a circulação no interior da zona histórica por causa da visita do Rei e assim deixamos as motos longe e seguimos a pé. Ainda nos preparávamos para abandonar as motos quando vimos o Rei passar, num antigo Mercedes, acenando à plebe e rodeado de seguranças pendurados nas portas de modernos Cherokees, mais uns quantos vistoso automóveis da sua comitiva. A Tilde, que há muito que reivindicava uma voltinha de caleche, lá nos convenceu e decidimos visitar a zona como verdadeiros turistas. Talvez fosse da quantidade de tagines que por cá temos comido, o cavalo não aguentou mais de 200 metros sendo necessário mudarmos de veículo. Ainda percorremos a pé umas ruas no interior da Medina mas havia muitas obras e como o calor não ajudava a caminhar com o equipamento, decidimos regressar. Num café de esquina à moda antiga, onde os homens, (mulheres em cafés é artigo que não existe) passavam o tempo à conversa ou assistir a um jogo de futebol pela televisão. O empregado, já com a idade do estabelecimento, arrastava discretamente a sua inseparável bandeja, servindo com tranquilidade a clientela que por certo não era de pressas. Bebemos uma borra que supostamente seria café e rumamos a Norte. A paisagem ia mudando, o verde, os campos lavrados e alguma de industria tomam conta do cenário. Escureceu e esfriou até que paramos num restaurante de estrada já em Ksar-el-Kebir. Indescritivelmente senti que já não estava mais em Marrocos mas em Espanha... Jantamos carne picada em brochette com salada, azeitonas, fritas e pão, muito pão que é alimento que nunca falta em cima da mesa. A carne estava boa mas o paladar bastante aromático acabou por me deixar ligeiramente enjoado. Ainda deu para matar a fome a um gato que se juntou e para trazer embrulhada para o dia seguinte. Rapidamente percorremos o trajecto até Larache, dirigimo-nos ao Hotel Madrid e mal tinha passado 10 minutos já estávamos instalados no quarto. Descemos para ir refrescar a uma geladaria e volto a ter a sensação de estar em território espanhol, de facto a arquitectura dos edifícios, o ambiente dos bares e cafés não o desmentiam. Perto da geladaria damos de cara com o mar. Estávamos de novo junto ao Atlântico, a brisa marinha devolvia-me ao habitat natural, sentindo Marrocos a ficar para trás! Lambuzados com uns vistosos gelados, eu com batido de chocolate, terminamos a noite em alegre conversa mas conscientes que a nossa viagem estava a chegar ao fim. Com permissão dos companheiros de quarto ainda vi televisão mas os temas deixavam muito a desejar e rapidamente adormeci.




Maio 2
Larache – Olalla
A manhã começou stressada, devorei o pequeno-almoço enquanto me tentava lembrar onde teria deixado as luvas. Acabaram por aparecer na barafunda das malas laterais, onde menos esperava. Chegamos cedo a Tanger, esta já bem desenvolvida e com contornos claramente espanhóis. Aqui já não restaram dúvidas: Marrocos tinha ficado mesmo para trás! Agradavelmente instalados numa requintada esplanada, tomamos um longo café enquanto um simpático marroquino nos traçava em linhas gerais a evolução do seu pais, do povo e dos contrastes que ainda existiam. O terminal do ferry estava mesmo ali perto, compramos as passagens para Algeciras por ser mais barato que para Tarifa. Com a ajuda de uns prestáveis “agentes aduaneiros” que trataram da papelada junto da Alfândega, pudemos prosseguir para o cais de embarque contornando a já longa fila de automóveis. Ainda assistimos às manobras de acostagem e baixar da rampa do moderno ferry da BALEARIA. Fomos os primeiros a embarcar e a pear as motos enquanto os carros iam manobrando de forma ficar já em posição de saída. Largámos o cais mas o vento forte que se fazia sentir no exterior estava desagradável e dificilmente nos deixava tirar as fotos da despedida. Como o nosso bilhete dava direito a café, fomos servidos na sala VIP do dito café com bolinhos e rebuçados. Só nessa altura percebemos que o funcionário nos vendera os bilhetes de classe affaire, obviamente mais caros! Já em território espanhol fizemo-nos à estrada sem mais demoras que o caminho era longo. A fome entretanto despertava, saímos da auto-estrada e encontramos uma tasquinha tranquila onde nos deliciamos com uma bela sande de jambón e uma canha se bem que a carne picada de ontem à noite ainda aconchegou algumas barrigas. À passagem por Sevilha o ambiente estava fantástico, o quente entardecer, o movimento e a agitação das pessoas junto ao comércio e dos restaurantes deixou no ar a vontade de um dia voltar para conhecer a cidade a sentir a movida sevilhana. Paramos para pernoitar em Santa Olalla del Cala, ficando alojados no Hostal Carmelo, asseado e com um animado restaurante onde jantamos e ficamos à conversa até tarde como se não tivéssemos umas centenas de quilómetros ainda pela frente no dia seguinte.




Maio 3
Olalla - Porto
Ultima etapa! Fizemos praticamente o percurso inverso, por auto-estrada mas também por estradas muito interessantes entre campos de sobreiros e azinheiras. Abastecemos antes de sair de Espanha e tiramos a foto da praxe à entrada em Portugal. Aproveitamos para visitar Marvão e almoçar no Restaurante Varandas do Alentejo, oferta de um amigo inglês. Difícil mesmo foi o regresso, pois o forte calor que inesperadamente nos acolheu durante a tarde, desgastou bastante. As despedidas foram feitas em Antuã. Sim, era verdade, a viagem tinha terminado por muito que custasse aceitar. O grupo relacionou-se em pleno, face às adversidades e experiências vividas em conjunto ao longo de 15 dias, 24 horas por dia, onde nunca faltaram doses boa disposição e bom humor que permitiram funcionarmos como um todo.




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Resumo da viagem
Grupo: Anatilde, Fonseca, Caldeira, Paulo e Carlos.
Percurso: Porto-Algeciras-Chefchaouen-Fez-Ifrane-Midelt-Maadid-Erfoud-Merzouga-Gorges du Todra-Ait Ben Haddou-Marrakech-Khenifra-Meknes-Larache-Tanger-Porto
Distância: 4091 Km
Dias: 15
Alimentação e Alojamento EUR 500,00
Gasolina EUR 400,00
Passagem Ferry: EUR 80,00